sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

No jornalismo, descobrimos coisas que nem imaginávamos

Assistindo a minissérie "Dercy de Verdade" que está sendo exibida pela Rede Globo em homenagem a atriz Dercy Gonçalves, escutei sem prestar muito atenção na cena que Dercy tinha passado por uma cidade chamada São Gonçalo. Na minha cabeça sabendo que ela era do estado do Rio, achei que era a cidade do mesmo estado. Trabalhando em São Gonçalo esta semana, descubro que não a São Gonçalo citada na minissérie não era o município do RJ, mas sim São Gonçalo do Sapucaí. E este assunto rendeu uma matéria. Confiram

Minissérie “Dercy de Verdade” revela amizade da atriz com uma família sãogonçalense

Dolores Gonçalves Costa, mais conhecida como Dercy Gonçalves, grande atriz, cantora e humorista que fez sucesso no teatro de revista, nasceu em Santa Maria Madalena, no estado do Rio de Janeiro, em 1905. Faleceu em 19 de julho 2008, sua carreira durou mais de 80 anos e no início a atriz fez apresentações artísticas em todo o Brasil.
A Minissérie “Dercy de Verdade”, baseada no livro de Maria Adelaide Amaral, "Dercy de Cabo A Rabo", faz menções as apresentações de Dercy em algumas cidades do país, inclusive São Gonçalo do Sapucaí. A obra narra que na década de 20, por volta dos anos de 1926, o grupo de teatro Mambembe, do qual ela fazia parte, fez espetáculos, nestas terra sul-mineiras "...Quando fomos a São Gonçalo do Sapucaí, em Minas Gerais, encontramos uma mulher maravilhosa, chamada Marocas, bastante popular na cidade, que nos ajudou muito e nos levou para sua casa. Em São Gonçalo nunca passamos fome. Ficamos um mês e nos exibimos em tudo quanto era lugar, até em casas de família. Depois, fomos pra Machado, porque a gente sempre procurava trabalhar na cidade mais próxima da praça anterior, para economizar nas despesas de transporte”, descreve um dos trechos do livro.
Como mencionado, em São Gonçalo, Dercy Gonçalves contou com a ajuda de Marocas de Siqueira, irmã de Altina de Siqueira Moraes, que era casada com um cirurgião dentista, Dr. Francisco de Moraes Lemos. A amizade deles surgiu com um gesto de solidariedade de Marocas, que após Dercy ter sido abandonada sem dinheiro pelos colegas de trabalho, levou a atriz para sua casa e a ajudou a realizar outros três espetáculos na cidade de São Gonçalo , com a finalidade de conseguir dinheiro para partir. "Minha tia Marocas era muito cativante, alegre fazia amizade muito fácil. Com esse jeito prestativa conheceu a atriz que se encontrava em necessidade", disse Zelma .
Em uma carta escrita, pela filha de dona Altina, Zelma Moraes Lemos, de 80 anos, existe alguns relatos de como foi o início da amizade da atriz com sua família e sua  passagem  por São Gonçalo do Sapucaí. Zelma disponibilizou ao Brasil Metrópole a carta na íntegra, postada abaixo, onde ela relata também um reencontro, que aconteceu após muitos anos entre a atriz e a mãe de Zelma.
“Lá pelos anos de 1926 ou 1927, Dercy Gonçalves apareceu aqui em São Gonçalo com sua trupe de teatro "Mambembe" e deu alguns espetáculos que foram sucesso na cidade.  No dia de partirem ela se desentendeu com alguns artistas e todos se foram embora e deixaram Dercy sozinha para trás e sem dinheiro. Por acaso, pelas ruas da cidade conheceu Marocas de Siqueira que a levou até sua irmã Altina de Siqueira Moraes , então casada com o Dr. Francisco de Moraes Lemos (Chiquito) – Cirurgião Dentista e que possuíam na época uma loja de tecidos.  Dercy ficou muito amiga de Marocas que se compadeceu da situação e saiu com Dercy pela cidade vendendo bilhetes de casa em casa, para três shows que pretendia dar aqui. Nessa época, Zelma ainda não era nascida.  Maria Altina permitiu que Dercy tirasse fiado os tecidos para confeccionar os três vestidos e lhe emprestou sua máquina de costura para qua a própria os confeccionasse. Apresentou os três espetáculos que foi um sucesso, pois ela era muito engraçadinha, criativa e sua voz era muito boa. Assim conseguiu dinheiro para ir embora. Pagou os tecidos, agradeceu e se foi.  Anos se passaram e Dercy foi se apresentar em Piracicaba, em 1987, onde Maria Altina se encontrava na casa de sua filha. Zelma ao saber de sua apresentação lhe escreveu uma carta e lhe enviou. Dercy foi visitar Maria Altina com total sigilo, já que nessa época ela era um sucesso. A máquina que Dercy usou ainda estava lá. Maroca já havia falecido Maria altina estava com 87 anos e Dercy com 80. Ela disse a mãe de Zelma que achava que aquele encontro seria uma b....(pois ela era muito desbocada), mas disse que gostou muito por que minha mãe até cantarolou junto com ela. Foi um encontro feliz. Depois disso nunca mais se viram. Hoje as duas já faleceram.  Certa vez meu pai Chiquito foi ao Rio de janeiro no Teatro do Recreio ver uma apresentação de Dercy e se sentou na primeira fileira. Ao abrir as cortinas ela apareceu e viu meu pai e disse “Chiquito você aqui! Vai ao meu camarim no fim do espetáculo” . Meu pai foi  e conversaram e lembraram do passado"
Trecho da Carta que Dona Zelma escreveu para nossa reportagem.
Zelma Lemos, comenta que ela mesma não chegou a conversar com Dercy, porque na ocasião sua filha mais velha ficou doente e teve que  viajar para São Gonçalo. A visita da artista foi inusitada, quem recebeu Dercy foi a filha dela, neta de Altina, que estava no apartamento. “ Quando ela entrou no meu apartamento a primeira coisa que ela disse foi: “Quem escreveu aquela carta pra mim?”. Ela gostou  muito da minha carta, porque eu toquei no nome do Pascoal, com ela se casou, e toquei nessas coisas passadas que ela se lembrava. E lha falei que mamãe não poderia ir ao teatro vê-la, mas esperava sua visita. Dercy acabou dizendo “Se Maomé não vai a montanha, que a montanha vá a Maomé”. E ela realmente foi . Foi um encontro muito bonito, muito feliz. Minha mãe morreu no ano seguinte”, conta.
Zelma ressalta que está acompanhando a minissérie “Dercy de Verdade” exibida pela TV Globo e está muito feliz da adaptação ter revelado a passagem da vida de Dercy em São Gonçalo do Sapucaí. “ Estou muito satisfeita com a minissérie , a personagem apenas mencionou o nome São Gonçalo, mais aconteceu tudo isso aqui. Foi uma surpresa. Isso pra nós significou muito, talvez pra Dercy não, pois sua vida foi tão cheia de percalços, cheias de emoções, cheias de  sofrimento e de luta. Ela era geniosa, até nos capítulos a gente vê como ela foi geniosa.  Mesmo sendo deixada pra trás, sem dinheiro, ela fez os vestidos e deu os espetáculos aqui na cidade, enchia o cinema “Cine Rosário”. O sucesso foi tanto que ela conseguiu o dinheiro para ir embora. Pagou os tecidos e se foi. Ela era muito extrovertida, muito criativa. Ela era muito bonita. E realmente como na minissérie mostra, ela não era de paquera, apesar de ser  atirada, mas era atirada no jeito de falar muita bobagem, e mencionar situações maliciosas. Tanto que quando ela casava ,era fiel, ela dizia “Eu não vou por chifre em você” e não punha mesmo . Enquanto ele estava casada com um era fiel a ele , depois que terminava e se casava com outro ela era fiel aquele outro.  Ela teve uma filha com Valdemar, Maria Dercimar Gonçalves Senra. Eu estou amando essa minissérie por que faço parte dela. Minha tia Maroca tinha uma foto dela autografada. Mas hoje não temos essa foto ela se perdeu, pois a casa de minha tia não existi mais.  Essa mineserie realmente é Dercy de Verdade, ela teve uma vida muito sofrida. O pai dela era mesmo muito agressivo, tanto que sua mãe largou dele pois ele a agredia.  Se ela estivesse viva a mensagem que deixaria para ela é Que ela é uma saudade morredoura na nossa família. Desde os tempos antigos que eu nem existia ainda, mas que mamãe e tia Marocas me contaram ficaram gravadas em meu coração. Eu tomei amizade por ela e ela faz parte da nossa família”, diz
O sãogonçalense, Murilo Pereira Coelho também está acompanhando a minissérie “Dercy de Verdade”. Ele tem em sua residência uma foto que retrata a passagem de Dercy por São Gonçalo. De acordo com ele, foi muito prazeroso saber desta história. “Foi uma grata surpresa ouvir que Dercy esteve aqui na nossa terra, São Gonçalo do Sapucaí. Foi quando eu lembrei que tenho uma foto dela oferecida a Dona Maria Altina e o Sr. Chiquito. Essa foto hoje é uma relíquia. Essa foto me foi fornecida pelo Sr. Cesar Sodré Ayres que tem um acervo fotográfico espetacular  de nossa terra. Então o mérito de ter guardado essa foto e todo do Sr. Cesar Sodré Ayres a que nós prestamos nossa homenagem, por ele ter feito esse trabalho tão bom de ter esse acervo fotográfico no qual ele me emprestou para que eu pudesse digitalizar e foi o que fiz com a foto de Dercy. Eu me lembrei de que ela já havia estado aqui, mas jamais pudera imaginar que eles mencionariam essa passagem de Dercy por São Gonçalo. A minissérie é excelente, principalmente se tratando de uma imagem extremamente muito conhecida tanto na arte cinematográfica,como na arte do teatro, como no teatro de revista. E a Dercy causou no Brasil um impacto pela sua maneira de ser. Eu tenho a impressão de que no início da carreira quando esteve aqui, ela não deveria ser assim, mas foi crescendo e adquiriu assim uma confiança pra que ela fosse falando tudo o que queria, sem causar espanto”, diz.






Um comentário:

  1. Confesso que não assisti à Minissérie, mas é interessante a história da arte dessa grande mulher que foi Dercy. Abraços Alaine e, parabéns pelo blog.

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