segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Exemplo de superação foi matéria de capa

Neste post, eu colocarei a matéria que fiz do Projeto CAP de Três Corações, que mostra histórias de pacientes e alunos deste projeto voltado para deficientes visuais da região. A matéria tem muitos depoimentos de como é o funcionamento do projeto, quais áreas de atuação. O melhor de tudo é que não é uma escola para deficientes visuais, também há um núcleo de capacitação para profissionais da educação que trabalham com este público. Confiram!

Uma grande lição de vida e esforço

Projeto para deficientes visuais em Três Corações é referência regional e conta com professoras cegas que trabalham na formação de profissionais

Há mais de dois anos a Prefeitura Municipal de Três Corações implantou um projeto voltado para a inclusão de deficientes visuais da cidade e região. O projeto chama CAP (Centro de Apoio Pedagógico para Deficientes Visuais) e tem como meta promover o atendimento e o acesso ao ensino do aluno com deficiência visual, além de capacitar profissionais em cursos especializados. O centro de apoio também disponibiliza atendimento psicológico aos alunos.

Segundo a coordenadora do CAP, Ronise Prudente Maciel, após a implantação do centro de apoio em Três Corações, muitas pessoas com deficiência visual da cidade e de toda a região procuraram a instituição. “O projeto é aberto para os deficientes da região, só é preciso marcar uma avaliação do caso.  A população “invisível” começou a aparecer porque antes a gente não via cego nas ruas, era difícil, vê-los. Agora nosso CAP atende cerca de 32 alunos cegos ou com baixa visão das cidades de Paraguaçu, Perdões, Conceição do Rio Verde, Três Pontas, Três Corações, Lambari”, conta.
As atividades do projeto são divididas em quatro núcleos: de formação, de produção, de convivência e de tecnologia onde trabalham 10 professores, dois deles cedidos pela rede estadual de ensino. Os alunos tem aulas uma ou duas vezes por semana. Nas aulas e no atendimento os alunos aprendem Braile, Orientação, Mobilidade e Informática através de programas de computadores que fazem leitura do que está na tela. “Aqui é diferente de uma escola regular, é uma escola especializada que trabalha para dar autonomia aos deficientes visuais e então são feitas atividades de convivência, passeios, cinema com audiodescrição e costumamos estimular alunos adultos e idosos com trabalhos artesanais. Em nosso núcleo de tecnologias, os alunos também aprendem a utilizar os programas de computadores como o  JAUS, o Virtual Vision e o MVTA, que por meio deles é possível que os alunos naveguem na internet ou façam trabalhos com o uso de um computador”, comenta.
O Centro de Apoio Pedagógico para deficientes visuais também possui equipamentos tecnológicos que foram doados pelo Governo Estadual. São uma impressora em braile e um Thermoform, equipamento de alto relevo. Através destes equipamentos são produzidos materiais didáticos como livros e mapas.
Sonho de ser inserido no mercado de trabalho
O aluno do CAP, Patric Levi de Souza, de 26 anos, perdeu a visão há dois anos devido ao glaucoma. Ele conta que a partir do momento que começou a frequentar o CAP ganhou autonomia para se locomover sozinho e realizar tarefas normais. “Frequento as aulas duas vezes por semana e aqui fiz aulas de mobilidade, uso a bengala para vir a aula sozinho, me alfabetizei em braile, aprendi a utilizar o computador normalmente, e através dos programas navego na internet, uso bate papo, faço trabalhos.  Ganhei autonomia e até pratico jiu-jitsu, um esporte que é bom para mim porque é de contato e onde conto com o auxilio do professor Adriano Pupilo”, explica.
Patric de Souza ressalta seu maior desejo. “Penso em voltar a trabalhar, meu sonho é ser escrivão da Policia Civil, ano que vem já vou voltar aos estudos, terminar o ensino médio e fazer faculdade de direito, para depois conseguir ser aprovado no concurso através da reserva das vagas”, diz.

Inclusão de alunos depende da capacitação de professores
Além do atendimento as pessoas com deficiência visual, o CAP é um Centro de Formação Pedagógica. Em 2011, os cursos de capacitação de professores formaram 174 profissionais de diversos municípios. Os cursos oferecidos são:  Capacitação em Braile, Baixa Visão, Código de Matemática Unificado, Processo de Alfabetização no sistema Braile, Soraban, Orientação e Mobilidade.
Duas das professoras do Núcleo de Formação, Elodir de Fátima Oliveira e Sueli Aparecida de Oliveira são deficientes visuais. Elas ministram cursos e auxiliam no atendimento aos alunos. A professora, Sueli de Oliveira, conta como prepara os cursos que ministra que são voltados para profissionais da educação e também empresas e diz que falta acessibilidade aos deficientes. “Eu ministro o curso de baixa visão e processo de alfabetização no sistema braile e conto com o auxilio de meu computador que é adaptado com os programas para que eu prepare os slides e as atividades. Sou a primeira cega de Minas Gerais a ministrar um curso de baixa visão e não tenho dificuldade alguma em trabalhar. Acho o que impede a inserção e expansão do deficiente visual no mercado é a falta de recursos adaptados e acesso”, comenta. Segundo a professora, graduada em Pedagogia, a proposta da educação inclusiva requer que os professores sejam capacitados. “ Eu estudei o código em braile já na fase adulta, porque tive que me alfabetizar em uma escola especial. Depois fui para a escola regular e cursei o ensino médio e magistério. No caso do magistério tinha professores que ajudavam, mas na fase do ensino fundamental eu tive algumas dificuldades porque naquela época não se falava em inclusão. Os professores acabavam recebendo os alunos, mas não tinham o preparo para trabalhar com deficientes visuais em sala de aula. Acho que capacitando os professores estão trabalhando muito bem a proposta inclusiva e nosso trabalho no CAP tem o objetivo auxiliar e capacitar professores”, diz.
Prova que a deficiência não impede o crescimento
Além de ministrar os cursos do núcleo de Formação Pedagógica do CAP, a professora Elodir de Fátima Oliveira, graduada em Pedagogia com habilitação Escolar, com quatro pós-graduações: Ensino Religioso, Educação Especial, Psicopedagogia e Supervisão Escolar, também é professora universitária. Ela comenta que foi umas das deficientes visuais pioneiras no Sul de Minas, a ministrar aulas no ensino superior, mas que agora as faculdades estão abrindo espaço para que os cegos também possam lecionar. “Atualmente sou professora universitária do curso de Pedagogia da Unincor e na Unipac em São Lourenço, já formei mais de 17 turmas. Meu trabalho também abriu espaço para ministrar disciplinas na pós de Atendimento Educacional Especializado. Antes não havia tantos professores cegos trabalhando, agora está mais aberto. Trabalho no CAP ministrando cursos para auxiliar ainda mais profissionais da educação, cegos ou não, a nível de realmente capacitá-los a assessorar os deficientes visuais e pessoas de baixa visão, porque no futuro estas pessoas também vão poder estar inseridas no mercado ”, ressalta.
Sãogonçalense com baixa visão tem apoio da Prefeitura
O sãogonçalense Ronaldo Celso Almeida tem um grave problema de miopia, que alcançou os 23 graus. Devido a baixa visão, tem óculos especiais.  Ele faz o tratamento anualmente com um oftalmologista, mas diz as lentes que utiliza são muito caras e só são trocadas em casos de quebra. “Estas lentes custam quase mil reais e eu só troco elas quando tenho condições, ainda assim a Prefeitura contribui com metade deste valor para fazê-los. Eu estou tentando fazer a cirurgia para reverter o problema através do Deputado Carlos Moscone, porque se não for feita eu posso ficar cego.”, diz.
De acordo com Ronaldo Almeida, ele descobriu o problema na adolescência e como já trabalhou no setor da saúde tem conhecimento de técnicas de percepção. Ele comenta que um projeto para deficientes visuais é algo bem importante para as pessoas que passam por este problema. “É importante porque quem tem problema de visão, como no meu caso, tem muita pouca assistência na área de saúde. Fica limitado em consultas e óculos. Eu ainda sei algumas técnicas de braile e desenvolvi outros sentidos que me ajudam muito. Muitas pessoas não sabem. Se a Prefeitura daqui fizesse uma parceria com Três Corações isto seria benéfico para os deficientes visuais da cidade”.








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